ARTÉRIA,
TU TENS RAZÃO
A
única coisa que eu aprendi meu Deus
a
sofrer a desilusão duma passagem de rua
ficar
com o lado esquerdo a ajudar a falar
mas
a única coisa que eu aprendi
Que
um bocado de vidro inundasse de luz uma artéria
eu
era um bocado de vidro que não inundasse de luz
artéria
nenhuma
era
uma desilusão a olhar para mim
e
dizer movimento de rua
é
assim movimento de rua
aí
está nós cá estamos nós somos tal e qual
uma
desilusão em passagem.
Tinha
era ainda mais que tudo isso
um
inchaço dum vidro em bocado
espetado
em cima de pedra.
Havia
um estendal de desilusão a devorar-me
todo
com os olhos
eu
era uma continuação do meu ser.
Onde
um simulacro estava a vantagem
de
uma desilusão.
Eu
não
eu
cá.
Que
um cá estamos considerasse ou não
eu
não tinha nada com isso
Eu
fum, eu...
Ah,
Havia
é que era eu cá estamos nada disso
eu
cá não eu nada eu não tinha eu não tenho
tu
quê
nós
consideramos.
Onde
punha fum
tudo
por dentro era duma urania
tudo
por dentro era duma constipação palpável
pelo
sentido da pedra e do bocado de vidro.
Não
eu cá não vou.
Quem
olha descontenta.
Por António Gancho
Imagem de “A Mosca” de David Cronenberg
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