sexta-feira, 22 de junho de 2012










Nem mais uma palavra sobre a beleza,
chega de palavras sobre a beleza, a visão nocturna
dos teus olhos não importa verdadeiramente
a ninguém. Melhor será observar a brusquidão
das aves (andorinhas, cartaxos, pardais vulgares...)
que, sem defesa, sobrevoam, ao entardecer,
os olivais que restam junto aos blocos 
de apartamentos que alcanço da tua janela.
Vou deixar de lado todas as imagens que conheço,
usar apenas palavras lentas e rasteiras.
Provavelmente, terei de descobrir uma língua
nova, mais humilde, para falar destas aves,
do modo como guinam na luz desguarnecida,
como pousam nos ramos das oliveiras,
ou nos telhados, à nossa frente
- com a traição do mundo em suspenso -
ou nos cabos eléctricos estendidos ao longo de ruas
por onde raramente passa alguém.
É sobre isto, sobre esta estranha veemência
que vou escrever, sobre o que verdadeiramente
importa. Só preciso de me defender de palavras turvas.





Por Luís Filipe Parrado

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